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Trigunas (sattva, rajas, tamas) e os efeitos sutis dos alimentos

“Dieta é tudo o que é ingerido por qualquer campo e através de qualquer sentido de percepção, sob qualquer forma da mente e qualquer forma de intelecto.” (Charak Samhita)

Este conceito deixa bem claro que o importante não é somente o alimento que comemos, mas também tudo que podemos perceber e assimilar por meio dos sentidos.

Podemos notar a manifestação de estados emocionais e suas influências em nossa alimentação em diversos momentos. Por exemplo: se você está com muita fome e sente o cheiro da sua comida favorita sendo preparada, os sentidos gustativos são estimulados e logo começará a salivar. Quando começa a andar em direção a ela, seu telefone toca, e, ao atender, recebe a notícia da morte de um parente. No mesmo instante, acaba a sua fome e toda aquela preparação do seu corpo, sistema digestivo e sensação de fome deixa de existir rapidamente.

Isso indica que tudo ao nosso redor, e não só a comida, influencia a nossa nutrição. Portanto, devemos fazer as escolhas que sejam mais adequadas se quisermos ter uma boa saúde.

A IMPORTÂNCIA DOS ALIMENTOS, A INFLUÊNCIA DO INDIVÍDUO NA DIETA E OS FATORES RELACIONADOS COM A DIETA

“Os alimentos sustentam a vida dos seres humanos. Todas as criaturas no universo necessitam deles. Compleição, clareza, boa voz, longevidade, felicidade, alegria, nutrição, força e intelecto, todos dependem da alimentação. As ações para a realização do mundo, na vida divina e na iluminação, todas dependem da alimentação.” (Charak Samhita, Sutrasthan 27.349-350)

O Ayurveda considera vários fatores como fundamentais na escolha de uma dieta. Essa escolha deve ser coerente com o estágio de vida em que se encontra o indivíduo, e também com a sua ocupação, que pode ser sedentária, atlética ou monástica. A manifestação do fogo digestivo, chamado de agni, pode ser alta, irregular ou baixa, sendo um importante fator avaliado pelo Ayurveda frente à seleção dos alimentos em uma dieta. A prakriti (constituição individual) e o vrikriti (o que está em desequilíbrio) são determinantes na escolha dos alimentos para compor uma dieta.

A quantidade e a qualidade do alimento, por exemplo, são aspectos associados ao tipo de agni manifestado no indivíduo. O modo de preparo influenciará no tipo do efeito sutil (TRIGUNAS, o que veremos adiante) que o alimento vai exercer sobre o indivíduo. Veremos nessa mesma vertente a influência das horas do dia sobre o agni, bem como a relação entre as estações climáticas e os ciclos dos doshas.

O Ayurveda aponta combinações incompatíveis em uma dieta e também alimentos (ou condimentos) antídotos para amenizar possíveis efeitos agravadores dos atributos de outros alimentos. Quantidade, temperatura e períodos de ingestão de líquidos no agni do indivíduo são importantes fatores avaliados pelo Ayurveda, pois a ingestão excessiva de líquidos pode diminuir o agni. O local da alimentação, por sua vez, pode provocar efeitos sutis positivos e negativos nos pratos, efeitos que acabam repercutindo no corpo e no processo de digestão.

Uma dieta e digestão equilibradas dependem da alimentação e nutrição adequadas e da relação entre digestão e metabolismo. Desse modo, o Ayurveda recomenda o alimento mais fresco, da estação, sem agrotóxicos, cheio de vida e preparado na hora da refeição. A nutrição adequada é o resultado do alimento que o indivíduo come, somado a sua capacidade de digestão. Metabolismo equilibrado é a habilidade do corpo de processar todas as substâncias do alimento sem desgaste ou esforço.

Para compor uma dieta, o Ayurveda enfatiza a seleção e preparo dos alimentos, a natureza e necessidades do indivíduo e a composição, pureza, quantidade e qualidade dos alimentos.

Antes de estudarmos esses aspectos, vamos conhecer definições importantes sobre as qualidades sutis da matéria para compreendermos como as características dos alimentos influenciam o corpo.

OS TRIGUNAS (OS 3 ATRIBUTOS DA MATÉRIA)

DEFINIÇÃO DE SATTVA, RAJAS E TAMAS

As qualidades sutis da matéria abrangem sattva, que se refere à inteligência pura e promove o equilíbrio; rajas, que constitui a energia e provoca o desequilíbrio; e tamas, a substância que, por sua vez, produz a inércia. Analisaremos agora o conceito dos gunas segundo os Vedas:

“Pureza, paixão e inércia, essas qualidades, ó Arjuna, nascem da natureza e limitam aquele que habita o corpo, ó indestrutível.

Sattva, por ser desprendida de impurezas, caracteriza-se por iluminar e ser livre de doenças e por aprisionar pelo apego à felicidade e ao conhecimento, ó impecável.

Saiba que rajas tem a natureza das paixões, sendo a origem da sede (de prazeres sensuais) e do apego. Ela aprisiona rápido o encarnado, ó Arjuna, pelo apego à ação.

Porém, saiba que tamas nasce da ignorância. Ilude a todos que habitam o corpo, aprisiona com rapidez, ó Ajurna, através da indiferença, preguiça, indolência e sonolência.

Sattva vincula-se à felicidade, rajas à ação, ó Arjuna, ao passo que tamas, encobrindo o conhecimento, vincula-se à indiferença.” (Bhagavad gita, XIV).

Segundo Maharishi Mahesh Yogi, em seu comentário sobre o Bhagavad-gita, toda a criação consiste na interação dos três gunas (sattva, rajas e tamas), nascidos de prakriti (ou natureza). O processo da evolução é conduzido por esses três gunas.

Evolução significa criação, e, em seu desenvolvimento progressivo e em sua base, está a atividade. Esta necessita de rajo-guna para criar impulso, e de sattva-guna e tamo-guna para manter a direção do movimento.

A natureza de tamo-guna é frear ou retardar, mas não se deve pensar que, quando o movimento é para cima, tamo-guna está ausente. Para continuar qualquer processo, deve haver etapas, e em cada uma delas, por menor que seja em espaço e tempo, é preciso haver uma força para mantê-la e outra para fazê-la evoluir a uma nova fase. A força que a faz evoluir é sattva-guna, enquanto que tamo-guna é a que a freia ou retarda para manter o estado já produzido, para que este funciona como a base do próximo nível.

Toda a vida no campo relativo está sob a influência dos gunas. O perecível é a existência relativa e o imperecível, o Ser absoluto. Portanto, para dar-lhe a experiência direta do estado absoluto da vida, Ele pede que Arjuna “esteja livre dos três gunas”.

Independentemente do campo dos 3 gunas em que você se encontre, daí deve começar a mover-se em direção a planos mais sutis dos gunas. E, quando chegar ao plano mais sutil, saia dele, transcenda-o, esteja consigo mesmo, “possuído pelo Ser” – “livre da dualidade”, “sempre firme na pureza”, “independente de posses”.

Esta é a técnica de realização instantânea. O Senhor mostra para Arjuna um meio prático de convergir a mente ramificada para o foco do intelecto resoluto. Aí está uma técnica eficaz para levar a mente a uma condição em que todas as diferenças se dissolvem, o que leva o indivíduo ao estado de realização.

OS EFEITOS SUTIS DOS ALIMENTOS

Os alimentos podem ser classificados como sáttvicos, rajásicos e tamásicos, conforme os efeitos sutis que provocam no corpo.

ALIMENTOS SÁTTVICOS

Os alimentos sáttvicos são considerados leves, puros, frescos, de fácil digestão, de sabor suave e adocicado. São alimentos formadores dos tecidos, promovem resistência física, saúde equilibrada e longevidade.

Têm o potencial de ativar a mente superior, os bons sentimentos e o refinamento das emoções, pois estabilizam a mente, elevam a consciência e a espiritualidade. Promovem o movimento para dentro, a introversão.

A dieta vegetariana ou lactovegetariana é mais sáttvica do que a dieta à base de carnes e produtos de origem animal.

Os alimentos sáttvicos são:
– a maioria dos legumes frescos;
– grãos (recém preparados);
– leguminosas;
– leite;
– alimentos adocicados;
– ghee (manteiga clarificada sem sal);
– nozes, castanhas e sementes;
– óleos prensados a frio;
– mel e água de fonte natural.

ALIMENTOS RAJÁSICOS

Energeticamente, os alimentos rajásicos aumentam o fogo e promovem a extroversão, o movimento para fora, a criatividade, a agressão e a paixão. De modo geral, são excitantes e estimulantes do sistema nervoso.

Estimulam a energia vital e a atividade mental e são indicados para casos em que o indivíduo se encontra em um estado letárgico, inerte ou esgotado, pois o esgotamento também pode provocar a letargia. Nos textos clássicos, estes alimentos eram “indicados para guerreiros antes da batalha”.

São considerados alimentos rajásicos:
– a maioria dos alimentos fermentados;
– iogurte ou kefir;
– alho e cebola;
– todos os tipos de pimenta;
– ovos;
– queijos, ricota;
– amendoim;
– azeitonas verdes e pretas com sal;
– café, chá-mate, chá preto, chá verde, chimarrão e guaraná-do-
amazonas.

ALIMENTOS TAMÁSICOS

Caracterizam-se, de modo geral, como pesados, de difícil digestão e fermentados. Aumentam a obscuridade e confusão mental, embotando a consciência. Deprimem, induzem à inércia, impulsividade, emoções inferiores, lassidão e torpor, e provocam, ainda, o desequilíbrio, doenças e morte.

Entre os alimentos tamásicos, incluem-se:
– carnes vermelhas;
– carnes industrializadas;
– bacalhau salgado;
– queijos fermentados e de odor forte;
– pimentas, pimentão, temperos muito fortes;
– bebidas alcoólicas em geral;
– alho, alho poró e cebola.

O modo de preparo também pode atribuir um efeito sutil tamásico ao alimento, como, por exemplo, frituras, conservas, preparados em microondas, tóxicos em geral, fast food, comidas requentadas, sucos de frutas engarrafados e/ou alimentos congelados.

 

Texto por Mario JP Neto – terapeuta Ayurveda

Coordenador do curso Ayurveda Clássico – Autoconhecimento e Formação

Site oficial: www.satvayurveda.com

 


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