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Ficamos encantados com os movimentos belos e harmônicos do corpo humano. Este possui um leque de possibilidades gestuais que vão além dos objetivos funcionais e mecânicos. Os movimentos humanos estão conectados ao seu universo afetivo e cultura.

Você já reparou na quantidade de movimentos que realiza ao longo do dia? Até para respirar, podemos estar numa postura estática, deitados na cama, ou sentado sobre uma poltrona confortável, que internamente uma sinfonia de movimentos acontecem dentro do nosso corpo para que o ar entre e saia de nossos pulmões. 

Não é só no nosso corpo, mas a natureza também revela a supremacia do movimento, desde aqueles mais óbvios, como as ondas do mar, como aqueles invisíveis aos olhos, como os movimentos das raízes por baixo da terra. 

O corpo, para que este se mantenha saudável, necessita estar em movimento. Vida é sinônimo de movimento, que é sinônimo de ação.  A imensa quantidade de movimentos experimentados desde o nascimento é uma preciosa ferramenta a serviço da nossa experiência humana. 

A seleção dos movimentos acontece pelo registro dos gestos mais utilizados, mais repetidos, que pouco a pouco se inscrevem no cérebro como uma mapa.    

Quando criança nossa consciência corporal é bastante afinada e é notória a elegância dos movimentos que produzimos, a medida que vamos adquirindo hábitos e padrões de comportamentos vamos alterando essa consciência e toda a elegância se transforma em gestos e posturas disfuncionais. 

Nosso corpo revela que para mantermos a elegância do movimento é necessário preservar a democracia desempenhada pela musculatura.  Os músculos cumprem uma função de nos movimentar por meio de deslocamentos, posturas e uma secessão de gestos. 

Um corpo harmonioso estabelece uma democracia entre os seus músculos, permitindo cada grupo muscular agir através da reciprocidade, num relacionamento fraterno. Aos músculos está reservada a consciência do diálogo, dando possibilidade para que a alma se manifeste em sentimento, pensamento e linguagem. 

Ao longo do tempo vamos adquirindo hábitos que enfraquecem a democracia muscular e impomos uma ditadura a um determinado grupo em detrimento de outro. Quando isso acontece passamos a sentir dores e desconfortos naqueles músculos que estão sobrecarregados. Com isso vamos perdendo toda a elegância e mobilidade. 

O corpo não é um mero serviçal que apenas realiza o que a mente determina, mas é também mente em si mesmo. O maior desafio para o entendimento disso é a ideia tão arraigada de que corpo e mente são separados.  O corpo utiliza os sentidos e os movimentos como mediadores entre o indivíduo e o mundo. O movimento determina todos os processos vitais, em todas as dimensões, sejam elas vegetativas ou cognitivas. Toda comunicação humana implica em algum tipo de movimento. 

A partir do trabalho com o movimento muscular temos uma chave preciosa para alterar padrões cognitivos e modificar os padrões considerados disfuncionais ou inadequados. 

Dessa forma, estou tentando trazer luz ao conceito de corpo como produtor e produto da cognição. O aprendizado envolvendo todo o corpo do indivíduo criará ordens de pensamentos ao mesmo tempo que a ação corporal e a cognição se estruturará, não como um fenômeno separado mas, vinculado ao corpo. 

Para cada tipo de dor e parte do corpo adoecida, teremos padrões de movimentos e posturas razoavelmente típicos. Mesmo que a fala do indivíduo esteja confusa, seu corpo não se engana e mostrará através de seus movimentos o que acontece naquele organismo que talvez o indivíduo não consiga traduzir em palavras. 

Nos caminhos paralelos entre medicina e educação foi se tornando cada vez mais claro o papel do corpo como o primeiro e o mais importante meio de comunicação que o ser humano possui. Esse corpo que não é visto mais como um aglomerado de moléculas e reações químicas e sim um conjunto de ações que se organizam por meio de comunicações em vários níveis. 

O trabalho corporal deve se utilizar de exercícios simples baseados nos princípios neurológicos de equilíbrio, tônus muscular, ritmo, deslocamentos espaciais, com o intuito de reeducar os movimentos e criar novos padrões de ordenação mental.

Infelizmente, em consequência aos equívocos culturais, a atividade corporal como meio de comunicação vem sendo negligenciada e sucumbindo o aprendizado a um conceito exclusivamente abstrato e simbólico.

É clara a existência de outros mecanismos corporais agindo como organizadores da consciência e do raciocínio, do saber e do sentir, da experiência de existir e da experiência de existência de tudo que nos cerca.

Quando realizamos alguma atividade física desejando modificar o corpo, é bastante comum que façamos movidos por um sentimento imediatista , preocupados com as dores e a aparência. Não importa os equívocos que tenhamos cometidos ao longo da nossa história, o movimento sempre poderá ser remodelado e os riscos, minimizados. 

Portanto, podemos afirmar que, o sedentarismo é o pai de todos os males. No nosso mundo moderno, 90% das profissões são realizadas sentadas em uma cadeira de escritório. Nosso corpo foi projetado para o movimento, não faz sentido alimentarmos uma cultura que negligencia a atividade física, ou a reduz a condição estética. É importante levarmos a nossa atenção aos movimentos que realizamos ao longo da nossa vida.

Nosso estilo de vida excessivo e veloz nos rouba consciência corporal e nos lança numa espiral de demandas e obrigações. No meio disso tudo o corpo é apenas aquele que nos leva pra cumprir tais papéis. Com pouca consciência nos abandonamos em posturas, gestos e comportamentos disfuncionais. Alteramos os fluxos de energia do corpo e a circulação de nossas águas através de hábitos que reduzem a longevidade e qualidade de vida. 

Mova a sua mente. Movimente-se!                                                                         

Por Amanda Pinho – Psicóloga, Terapeuta Corporal, facilitadora do curso de Anatomia Metafísica e corpo docente da Formação Massoterapia Integrativa.

Fonte: Reeducação do Movimento – Instituto Ivaldo Bertazzo